Cerca de 800 milhões de pessoas passam fome no mundo, atualmente, segundo dados da ONU. É verdade, esse índice diminuiu na última década; entretanto, a previsão para o futuro ainda é preocupante. Afinal, a produção de alimentos teria que aumentar 70% para dar conta do crescimento populacional (devemos ser 9 bilhões até 2050).
O combate à fome é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a ser atingido até 2030. Já sabemos que só aumentar a produção agrícola não será suficiente – mas muitos especialistas estão apostando na tecnologia para erradicar a fome dentro do prazo.
Tecnologia para criar novas oportunidades
Em uma edição especial da revista Foreign Affairs, a diretora executiva do UN World Food Programme, Ertharin Cousin, explicou que a tecnologia deve servir como uma ferramenta, mas que a produção de alimentos permanecerá protagonizada por pessoas. Segundo Cousin, o papel da tecnologia é “fornecer dados, análises, comunicação e promover o acesso que leva à mudança social, política e econômica, oferecendo ajuda aos produtores ao apresentar oportunidades e escolhas antes desconhecidas”.
O avanço digital será imprescindível para conectar comunidades ainda isoladas, seja por espaço físico ou falta de informação. Esse processo já está em andamento – uma das iniciativas do World Food Programme foi implementar aparelhos móveis com acesso à internet na Etiópia, por exemplo. Sabendo das variações de preço de sementes e fertilizantes, tendo acesso à previsão do tempo e potencializando o contato entre agricultores da região, a capacidade de estoque de alimentos triplicou em 3 anos (leia mais aqui – em inglês).
Obstáculos para o acesso à tecnologia
Um dos maiores desafios é tornar a produção agrícola sustentável – hoje, estima-se que um terço do que é produzido no mundo seja ou perdido após a colheita ou desperdiçado durante o consumo. Outros cuidados serão saber administrar recursos naturais de acordo com as mudanças climáticas e popularizar o acesso à internet (na África, continente em que, proporcionalmente, há mais pessoas com fome, apenas 20% da população está conectada na rede).
Incluir as mulheres na inovação também será essencial para se cumprir esse e outros Objetivos. Apesar de atuarem em todas as etapas de produção de alimentos, elas são minoria no acesso à informação e, por consequência, pouco participam na tomada de decisões. Estudos já mostraram que, quando mulheres produtoras utilizam tecnologia digital, elas aumentam suas rendas, conquistam autonomia financeira e têm mais propensão a investir em nutrição, saúde e educação, contribuindo para o crescimento econômico da sociedade.
Brasil é exemplo
O Brasil foi um dos países que atingiu a meta de reduzir pela metade o número de pessoas com fome até 2015. Além disso, deve ser responsável por 40% do crescimento da produção global de alimentos até 2050, por ter, segundo a ONU, “capacidade de desenvolver tecnologia para os trópicos, água em abundância, recursos humanos qualificados e disponibilidade de terra” (leia mais aqui).
Ainda assim, a Organização alerta: somente a tecnologia não deve resolver. Elas devem ser complementadas com políticas sociais, mudanças culturais e desenvolvimento de infraestrutura.