Por Hillary Cuervo Valencia
Não é segredo o forte marco de violência em que a Colômbia esteve envolvida por pouco mais de meio século; sendo o ator principal um grupo de camponeses que, a princípio, nasceu com o objetivo de ser escutado pelo governo, uma vez que na década de 1940 os colombianos viviam em um país bipartidarista, entre os “Liberales” e os “Conservadores”. Estes eram os únicos que detinham o poder de governança naquele momento e, por conta desta concentração, os cidadãos iniciaram revoltas e manifestações, procurando ganhar participação na tomada de decisões.
O governo, porém, nada fez. Deixando, assim, que este mesmo grupo, que só queria participação política, criasse uma coalizão de camponeses, os quais já não exigiam o direito de ser escutados apenas de forma pacífica, decidindo tomar o caminho da violência, das armas e, pouco depois, o caminho das drogas para conquistar o protagonismo e a importância que queriam ter desde o início. Eles passaram a se chamar “Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia” (FARC).
Com o passar do tempo, outros grupos sociais se deram conta de que esta atividade à margem da lei proporcionava lucros; levando à criação de mais grupos com características e objetivos similares de tomada de poder, como o “Ejército de Liberación Nacional” (ELN) e os “Grupos Armados Organizados” (GAO), entre outros que ainda travam confrontos com as autoridades colombianas pelo controle do território e pela erradicação dos cultivos ilícitos de drogas.
A Colômbia, então, se tornou conhecida – tanto a nível nacional quanto internacional – por estar afundada em um ambiente de violência, armas, morte, sangue e cultivo de drogas, obrigando o governo a ter que pensar em uma estratégia para reverter este quadro por meio da Paz e não pelos confrontos, os quais já causavam ainda mais violência. Ocorreu uma série de tentativas de paz, a única que teve efeito, porém, foi a do presidente Juan Manuel Santos, com um acordo que levou à assinatura das Farc e do governo nas negociações de paz.
O pós-conflito, como é chamado por muitas pessoas, porém, ainda não existe e não existirá por alguns anos. O que existe hoje em dia é um pós-acordo, visto que chegou-se a um consenso em pontos mais difíceis das negociações, mas para que realmente exista um pós-conflito é preciso o cumprimento da implementação, verificação e o referendo dos pontos negociados no processo de paz, ou seja, levar o acordo para a prática, tendo incidência direta nas mudanças políticas, de modo que sejam mais inclusivas.
Por outro lado, é necessário lembrar que a violência e tudo o que ela traz consigo não vai terminar com este acordo de paz, pois ainda que as Farc sejam um dos mais importantes grupos armados, há outros grupos que, atualmente, estão tomando o poder e o território do que já havia sido desmobilizado. Isso acontece pela falta da presença estatal, especialmente nas áreas periféricas.
Ainda que o acordo esteja assinado e que o governo tenha a vantagem para que tudo dê certo, há dissidência dentro da própria Farc e com outros grupos à margem da lei. A violência, uso das armas, morte e cultivo de drogas continuam e, se nada é feito para neutralizar, de maneira rápida e eficaz, esta prática irá permanecer no tempo.
Por fim, levando em conta de que as políticas na Colômbia são de governo e não de Estado, é muito mais difícil que tudo o que um presidente conquiste em seu período de governabilidade tenha sucesso nos anos seguintes, pois sempre existirão os partidos políticos que pensam diferente, que não estão de acordo com o que a oposição fez e irá tentar mudar ou retirar todos os esforços, políticas e acordos de seu antecessor.
Este é o panorama que se percebe na Colômbia para as próximas eleições presidenciais. Se isto acontecer, não se vê uma situação boa para o país, em termos de segurança. Um exemplo concreto disso é que ainda não houve mudança de governo e a ELN já tem causado atentados na cidade de Barranquilha, os mais recentes aconteceram em postos policiais, deixando mortos e feridos. A causa disso seria que o mesmo governo que quer procurar paz suspendeu as negociações com o grupo por conta de tensões e desacordos.
Se isso ocorre em um governo no qual seus pilares são a paz e a segurança, o que irá acontecer quando as bases do próximo presidente for outra, querendo mudar tudo o que já foi feito? Sem dúvida alguma, a Colômbia vive um desafio, do qual espera-se ter vitória para que possa superar o quanto antes esta etapa de violência da qual tem sido protagonista durante anos.
Hillary Cuervo Valencia é estudante de Relações Internacionais da Universidad Del Norte, na Colômbia, e assistente de projetos voluntária no Instituto Global Attitude.