A delegação brasileira do European Development Days (EDD) 2016, selecionada pelo Diplomacia Civil, passou esta semana em Bruxelas, na Bélgica, para participar das palestras, debates e workshops realizados nos dois dias do evento.
Neste ano, o EDD completou 10 anos de atuação, reunindo cerca de 5 mil pessoas de 140 países e 1.200 organizações para compartilhar ideias e experiências sob o tema “Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável“. Sendo uma das primeiras conferências de grande porte dedicada à sustentabilidade, o EDD destacou, ainda, discussões sobre desigualdade, gênero, mudanças climáticas, economia circular, cidades sustentáveis, ciência e tecnologia, inovação, estados frágeis, migração e refúgio, engajamento do setor privado, entre outros.
Um dia antes do início do evento, a delegação formada por Beatriz Scotton, Letícia Nogueira, Jack Netto, Juarez Silva, Mízia Brito, Pedro Guedes e Stefanny Officiati fez uma visita oficial ao Parlamento Europeu, onde eles puderam conhecer um pouco mais sobre o funcionamento da instituição. Ainda no mesmo dia, a delegação teve uma reunião com a Conselheira Tatiana Bustamante, do setor de Direitos Humanos e Temas Sociais da Missão Brasileira Junto à União Europeia.
“Tatiana falou sobre a questão de gênero, tanto no Brasil quanto na Europa, e como isso é tratado em reuniões e qual é o papel dos diplomatas neste assunto. Ela foi muito aberta ao falar de temas polêmicos, como o tráfico de drogas, um assunto que está presente em todos os países, e destacou ainda o papel das mulheres na estrutura do tráfico. Foi surpreendente ver que ela sabe muito sobre isso e está consciente sobre estes assuntos, porque não costuma ser um tema muito tratado”, explica Beatriz.
Já no primeiro dia do EDD, na quarta-feira (15), os delegados se distribuíram em uma série de palestras e debates de interesse próprio, como tráfico humano, cidades inclusivas sustentáveis e resilientes, justiça como pilar para o desenvolvimento, luta contra pobreza e fome, entre outros.
“O primeiro dia foi além das minhas expectativas. Assisti a um seminário sobre a questão da mutilação feminina em alguns países da África e como a religião interfere nisso. Conversei com uma das palestrantes, a britânica Jay Kamara-Fedrick, do Orchid Project, e ela foi incrível. Trocamos contatos e ela ainda disse ser apaixonada pelo Brasil e que tem a intenção de levar o assunto da palestra para ser discutido em mais escolas e faculdades brasileiras”, lembra Juarez.
“O que achei mais incrível no evento foi o contato que tivemos com outros brasileiros, que estão a trabalho ou estudando na União Europeia. Eles nos deram dicas de como se candidatar para estágios no Parlamento ou em órgãos da Comissão Europeia. O evento é o mais internacional possível, tornando a troca de informações e contatos uma atividade integrada ao crescimento profissional e pessoal”, conta Letícia.
A delegação participou da cerimônia de abertura, que contou com discurso do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-Moon, sobre a cooperação para a construção de um mundo melhor e mais pacífico e conversou ainda com alguns Young Leaders e com a jornalista filipina Rina David.
“Me chamou bastante atenção o engajamento da sociedade jovem, em especial os Young Leaders, que transmitiam discursos de otimismo e desejo de um mundo com mais oportunidades para todos. Tive o prazer de ouvir a Young Leader do Marrocos, Sana Afouaiz, uma advogada focada em empoderamento feminino, juvenil e migração. Ela conseguia transmitir a todos a ideia de que o mundo só será um lugar mais acessível quando o investimento em educação for uma prioridade”, diz Letícia.
Para a delegada Mízia, o contato com Young Leaders e seus discursos sobre soluções para problemas globais foram inspiradores para querer pôr em prática projetos no Brasil. “Achei muito interessante o que foi dito em um dos painéis sobre a necessidade de investir na educação das crianças para que, no futuro, elas se tornem jovens preparados para realizar a diferença em sua comunidade local”.
“Além dos assuntos que me interesso, procurei assistir também as palestras com temas difíceis de encontrar na internet ou que a mídia não discursa tanto. Números e estatísticas não tocam as pessoas tanto quanto o relato de uma experiência própria, que vem do coração, e foi isso que percebi: os palestrantes não se mostram céticos ao ocupar cargos de embaixadores, diplomatas, etc, eles estão ali com paixão e defendendo ideais que acreditam ser importantes para uma nação. Achei muito bonito e diferente do que estamos acostumados a ver”, lembra Stefanny.
O segundo dia contou com a participação do delegado Jack em um dos workshops com debate aberto sobre cidades inclusivas. Após se focar em palestras sobre este assunto, ele se sentiu mais confiante em seu discurso, expondo ideias para a criação de espaços urbanos preparados para receber fluxos imigratórios e projetos que ajudem na capacidade de produção agrícola.
“Tive uma conversa com uma delegada do Malaui. Ela falou sobre a situação da fome no país dela e discutimos a possibilidade de trabalharmos em conjunto para implementar alguns projetos brasileiros no seu país, de forma que a produção agrícola aumente. Conversei também com funcionários do UN Habitat, que mostraram interesse por minhas ideias e pretendem estudá-las para futuros projetos. Vou levar essa vivência com grande crescimento e amadurecimento. Foi uma abertura de portas muito grande para negócios, trabalho, networking e novas amizades”, explica.
Outro delegado que considerou a experiência do evento uma forma de abertura para novas visões foi Pedro. Diferente dos demais delegados, ele é estudante de engenharia elétrica e afirma que, antes do EDD, não tinha contato com temas mais políticos, sustentáveis ou diplomáticos, sendo uma forma de expandir seus conhecimentos e horizontes.
“Senti que toda a preparação que o Instituto Global Attitude proporcionou e todos os conteúdos apresentados no EDD me fizeram aprender de uma forma exponencial e isso me despertou um interesse ainda maior de seguir uma carreira política no Brasil e em buscar um propósito de vida profissional que de fato traga um impacto mais interessante para a sociedade brasileira e até para o mundo”, afirma o delegado.
E Pedro continua: “o que é fascinante é que nunca iria imaginar que com 22 anos participaria de um evento de renome internacional, com personalidades conhecidas no mundo inteiro, referência em assuntos políticos. Não imaginava assistir a uma palestra do Secretário-Geral da ONU ou conhecer o Secretário-Geral da OCDE. Isso é impressionante”.
“O evento me transformou como ser humano para aprender determinadas coisas que não percebemos tão a fundo sozinhos. Acho que meu maior ganho foi a motivação e a certeza do que quero fazer e onde quero estar daqui a alguns anos, me dedicando ao Direito Internacional”, explica Juarez.
Ainda no segundo e último dia, o evento contou com um discurso da Rainha Matilde da Bélgica, que destacou a importância da União Europeia ter uma visão global e comprometimento com o desenvolvimento sustentável, mencionando ainda dificuldades com o terrorismo, crise econômica, migração, intolerância e racismo.
“Assisti uma Young Leader falando sobre empoderamento da juventude e ela citou que ‘são com grandes ambições que se atingem grandes objetivos’. Com isso, aprendi que não devemos nos contentar com a nossa realidade. Temos voz e poder desde que sonhemos alto e lutemos para chegar lá”, afirma Stefanny.
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