Por Carla Trabazo
Aconteceu no fim do mês de abril a terceira edição do Fórum dos Países da América Latina e Caribe sobre Desenvolvimento Sustentável, que contou com a participação de nove delegados do Diplomacia Civil. O evento, realizado na sede da Comissão Econômica da ONU para América Latina e Caribe (Cepal), na capital chilena, Santiago, tem como objetivo dar seguimento e monitorar a implementação da Agenda 2030, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e suas metas.
Atuando no fórum pelo segundo ano consecutivo, o Diplomacia Civil contou com uma delegação diversificada de jovens brasileiros, oriundos das cinco regiões do país e inseridos em diferentes áreas de atuação, como Direito, Engenharias e Relações Internacionais.
Erleyvaldo Bispo, Gabriella Prado, Helena Porto, Lívia Brioschi, Maysa Magalhães, Natália Cecília, Natasha Briguet, Rodrigo Zara e Thiago Cruz se juntaram às mais de mil pessoas que participaram da edição de 2019, entre representantes de Estado, setores privados, sociedade civil, bancos de desenvolvimento, órgãos subsidiários da Cepal, agências da ONU e blocos de integração regional.
Além da participação no fórum, a delegação contou com duas reuniões privadas – promovidas pelo Diplomacia Civil – com a Oficial de Assuntos Econômicos do Escritório da Cepal em Brasília, Camila Gramkow, e com o Embaixador Carlos Duarte, encontros que inspiraram os delegados de diferentes formas.
“Tivemos o prazer de conhecer Alicia Bárcena, Secretária Executiva da Cepal, também amei conhecer Mabel Bianco, presidente da Fundação para Estudo e Investigação da Mulher (FEIM) e Camila Gramkow, oficial de assuntos econômicos do escritório da CEPAL em Brasília. Muitas mulheres incríveis e com carreiras inspiradoras”, afirma Maysa Magalhães, uma das delegadas, que após o fórum despertou interesse em trabalhar com direitos humanos.
“A vivência no programa foi ótima, queria aproveitar cada minuto pois estar ali era uma grande oportunidade de aprendizado e networking. Cada [pessoa] tinha sua história, vinha de um país e possuía uma trajetória diferente. Me inspirei muito e voltei ainda mais engajada para fazer o melhor na minha região e no meu país”, continua a advogada.
O evento, composto em sua maioria por mulheres (51%, de acordo com a organização), teve como um dos maiores destaques as oportunidades de networking nas mais diversas áreas, fato apontado por toda a delegação. “Pude conhecer inúmeras instituições e especialistas, demostrando o quanto o networking foi proveitoso e enriquecedor. Uma das pessoas que tive a enorme oportunidade de conhecer foi Lidia Brito, Diretora Regional de Ciências da UNESCO para a América Latina e o Caribe, uma inspiração por ser de Moçambique, Engenheira Florestal e que traz consigo uma enorme alegria e motivação”, afirma Erleyvaldo Bispo, vencedor da primeira Bolsa Jovem Diplomacia Civil.
O benefício – que custeou todo o valor do programa – lhe permitiu viajar, pela primeira vez, para outro país e participar do maior fórum da América Latina dedicado ao desenvolvimento sustentável. Focado em questões voltadas à água e a mudanças climáticas, o estudante de Engenharia Florestal conversou com especialistas da área, onde pôde aprender “novas ferramentas e indicadores em que será de bastante uso na minha rotina profissional” e, ainda, “ter conhecido jovens empenhados de outros países, que desenvolvem ações como a mobilização da juventude sobre as causas ambientais e colocam a ‘mão-na-massa’ para alcançar os indicadores dos ODS. Por fim, não foi somente o ganho profissional, mas também o pessoal com muitas trocas de experiências, conhecimentos, expertises e futuras colaborações, evidenciando a importância de se sensibilizar pelas questões sobre a água e climática, me fazendo entender que estou no caminho certo”.
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Lívia Brioschi também retornou ao Brasil inspirada para criar novos projetos, com planos de seguir carreira na área internacional. “Percebi o quanto é importante a participação da sociedade – e ainda mais dos jovens – em promover ações que impactam o lugar e as pessoas. A minha vontade é de, no futuro, promover ações na minha cidade para conscientização e para incentivo dos jovens em participar ativamente na sociedade em que vivem. Eu percebi o quão importante é desenvolver ações na nossa região, América Latina, que apesar dos problemas peculiares, tem grandes potenciais também”, sentencia a advogada, que disse ainda ter interesse em participar das futuras edições do fórum, visto que sua experiência no programa “foi extremamente gratificante e inspiradora, não só como profissional, mas como mulher, jovem e cidadã brasileira”.
Perguntados sobre a representatividade brasileira e jovem no evento, os delegados foram unânimes: dá pra melhorar. “Pude perceber um esvaziamento da representatividade brasileira no evento, bastante influenciada por questões governamentais, que têm pouca sensibilidade com as pautas ambientais. Fiquei muito feliz em ver não somente a delegação, mas também outros jovens circulando pelos espaços que, geralmente, são tomados por pessoas com maior idade discutindo questões atuais e relevantes para a juventude sem ter suas vozes em conta”, explica Erleyvaldo.
O delegado, porém, avalia que a delegação do Diplomacia Civil soube aproveitar o espaço que o fórum ofereceu. “No geral, a nossa colaboração foi essencial por trazer as perspectivas dos jovens para este ambiente, já que somos nós que estamos e iremos sofrer ainda mais com as mudanças climáticas e projetos de mitigação, que nos impactam diretamente”.
Maysa comparte do mesmo sentimento: “Em comparação com outros países havia poucos jovens brasileiros participando do evento. Nós, da delegação, tínhamos uma grande responsabilidade em cumprir este papel. Representantes do Brasil já eram poucos, de jovens era ainda menor. Isto é algo que deve ser destacado, pois o fórum discute temas muito importantes nos quais todos devem ouvir e participar, por isso é tão importante organizações com iniciativas como a do Instituto Global Attitude”, afirma.
Em sessão especial de encerramento, representantes de governos e organizações internacionais fizeram um apelo para acelerar ações que buscam alcançar os ODS, contando com a cooperação entre os países da América Latina e Caribe para avançar em ações climáticas concretas.
O Enviado Especial do Secretário-Geral da ONU, Luis Alfonso de Alba, reiterou a necessidade de passar do âmbito de negociações para a ação. “O Secretário-Geral, António Guterres, insistiu que os Chefes de Estado vão à Cúpula sobre o Clima [COP 25], que se realizará em setembro, com um plano concreto, não só com discursos. Para levar adiante a agenda climática é indispensável contar com outros atores, em especial a sociedade civil e o setor privado”.