Aconteceu neste mês de julho o High-Level Political Forum on Sustainable Development 2019 (HLPF), principal plataforma de acompanhamento e revisão sobre ações dedicadas ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) pelos Estados Membros da ONU. O fórum, realizado na sede da organização em Nova York, EUA, é fechado para a sociedade civil e reúne representantes de governos, agências especializadas e organizações com Status Consultivo no ECOSOC.
A edição deste ano focou no tema “Empoderando pessoas e assegurando a inclusão e a igualdade”, com destaque para discussões mais específicas dos ODS 4 (Educação de Qualidade), 8 (Trabalho Decente e Crescimento Econômico), 10 (Redução das Desigualdades), 13 (Ação Contra a Mudança Global do Clima), 16 (Paz, Justiça e Instituições Eficazes) e 17 (Parcerias e Meios de Implementação).
Pela primeira vez, o Instituto Global Attitude garantiu acesso ao fórum por conta do seu Status Consultivo junto ao ECOSOC, podendo assim enviar uma delegação de 10 jovens brasileiros, por meio do programa Diplomacia Civil. São eles: Ana Paula Oliveira, Débora Galvão, Emmanuel Brasil, Érica Liberato, Gabriela Cardozo, Gabriella Azeredo, Julia Sapucaia, Julianna Fonseca, Maria Dulce Lima e Tassia Jansen.
Os delegados passaram por um processo de preparação antes da viagem, que contou com Diplo.Labs de temas como inglês para negócios, técnicas de networking, como representar o Brasil no exterior, comunicação pessoal e o funcionamento do fórum e da ONU para os ODS. Além disso, eles contaram com orientação de um professor para a produção de artigos acadêmicos – com temas relacionados ao fórum.
Já em Nova York, a delegação atendeu à programação diária do evento e reuniões privadas com Paulo Gadelha, ex-presidente da Fiocruz e coordenador da Estratégia Fiocruz para Agenda 2030, e com o Conselheiro André Maciel, da Missão Permanente do Brasil junto à ONU, organizadas pelo Diplomacia Civil. Além destes, os delegados conheceram a fundadora da Island PRIDE e Embaixadora ONE Young World da Micronésia, Yolanda Joab, após seu discurso de abertura no HLPF.
“Paulo Gadelha nos explicou os principais desafios enfrentados pela Fiocruz no Brasil e sobre o seu trabalho junto à ONU e à construção da agenda 2030. O conselheiro da Missão Permanente do Brasil, André Maciel, nos deu uma aula sobre a atuação do Brasil desde o início dos trabalhos das Nações Unidas. O Brasil possui muitos desafios para o alcance dos ODS, mas enxergar uma sociedade civil engajada me deu esperança para continuar buscando o aprimoramento em causas que acredito”, afirma Julia Sapucaia.
Segundo o delegado Emmanuel Brasil, as reuniões e o fórum em si lhe foram suficientes para acreditar que a diplomacia brasileira está no caminho certo. “O Brasil tem excelentes diplomatas capacitados e engajados não só com a missão das Nações Unidas, mas com o cenário internacional. Quanto a este quesito, considero que o Brasil está bem representado após a reunião na missão permanente do Brasil nas Nações Unidas”, afirma.
Foi marcante no HLPF o fato de cadeiras dedicadas aos representantes oficiais de alguns governos estarem vazias e, ainda, o apelo do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, para que as nações não mais apresentassem discursos voltados ao “vamos fazer”. A delegação também percebeu que, no geral, os representantes não apresentavam planos concretos ou ações em trâmite, algo que despertou preocupação para que os objetivos da Agenda 2030 sejam atingidos até o prazo estipulado.
Uma agradável surpresa, porém, segundo os delegados, foi ver nações como a Somalilândia – não reconhecido como um país pelos Estados Membro da ONU – tomando a liderança na implementação concreta de estratégias para alcançar os ODS. Durante o HLPF, o “país” apresentou documento com conquistas e resultados, tornando-se referência.
Perguntado sobre o comprometimento do Brasil com os ODS, Emmanuel afirma que, nesta edição do fórum, o país “não apresentou o Voluntary National Review por questões políticas, o que seria muito importante para a juventude brasileira para avaliarmos o que está precisando e o que ainda falta executar”. Ainda assim, o advogado aproveitou a experiência como inspiração para implementar novas ideias de volta ao Brasil. “[Participar do programa] foi a melhor experiência da minha vida e tive que viver intensamente. Volto ao Brasil com muitas ideias boas para mudar o cenário local através das ODS, então foi de extrema significância o fórum pela sua visibilidade e incentivos para que pudéssemos ir aos espaços públicos e acadêmicos sobre o tema”, sentencia.
Já Débora Galvão afirma que o país ainda está passando por um período de mudanças, que devem ser acompanhadas de perto. “Ainda é cedo para fazer avaliações concretas. O Brasil vinha apresentando um protagonismo, mas atualmente está passando por mudanças, temos que aguardar. Os Estados, porém, vêm desempenhando um forte papel na implementação das políticas públicas. O projeto que eu trabalho é do Estado do Piauí com o PNUD, para implementação dos ODS nos territórios”, explica a doutoranda em Direito Ambiental Internacional. “Foi de grande relevância enxergar pessoalmente toda a teoria que vejo e defendo nas minhas pesquisas. Visualizar uma conferência internacional, o papel importante dos novos atores e como estão avançando os países na agenda 2030”, continua.
De modo geral, a delegação avalia que a participação no fórum e no programa foram uma grande experiência para suas realidades pessoais e profissionais. “Foi extremamente agregadora em muitos sentidos. Conheci delegados engajados em diversas causas de relevância de todo o país, ao mesmo tempo em que pude vivenciar uma experiência internacional e com oportunidade de networking indescritíveis. Esse ano, especialmente, percebemos a importância da representação da sociedade civil brasileira no evento, representada não só pelo Diplomacia Civil, como também por diversas ONGs e projetos sociais com atuação no Brasil”, explica Julia.
Confira mais depoimentos sobre o evento: