Eu, no G20? Quando recebi a notícia de que fui selecionada para essa missão, meu mundo parou! Como resultado, meu coração palpitou, minhas mãos suaram e minha respiração ficou ofegante. Imagina, dessa maneira, a responsabilidade de levar os interesses da juventude brasileira para um espaço tão honroso de diplomacia civil?
O G20 Youth
O G20 Youth é o grupo de engajamento oficial do G20, um fórum formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia. Em suma, esse grupo foi estabelecido em 1999 com o objetivo de conectar as principais economias industriais e em desenvolvimento para discutir questões que impactam a economia global.
Já a Cúpula da Juventude Y20, criada em 2010, tem o intuito de:
- Discutir e debater a agenda dos líderes do G20;
- Promover a conexão e o engajamento de jovens líderes;
- Destacar as questões mais urgentes que afetam os jovens;
- Desenvolver recomendações de políticas para os líderes do G20;
- Realizar um processo de advocacy para que essas políticas sejam implementadas;
- Elaborar um comunicado de soluções com a perspectiva da juventude dos países do G20 para os principais desafios globais;
- Entregar o comunicado oficial para os líderes do G20.
Em 2021, o Y20 Summit ocorreu virtualmente, durante os dias 19 e 23 de julho, hospedado em Milão e Bérgamo, na Itália. Os temas de debate foram:
- Inclusão e Igualdade de Oportunidades;
- Sustentabilidade, Mudanças Climáticas e Energia;
- Inovação, Digitalização e Futuro do Trabalho.
Durante a cúpula, os jovens delegados tiveram a oportunidade de ouvir e interagir diretamente com autoridades governamentais, representantes de organizações internacionais e executivos das principais empresas italianas e internacionais.
O auge, não é? Certamente foi uma oportunidade única de influenciar ao mais alto nível da política internacional!
Sentimentos
Eu amei participar dessa conferência, mas confesso que foi algo mega desafiador! Como mulher negra, espaços de protagonismo e liderança me foram negados desde o berço, e para que eu lembre que esses espaços também são para mim, preciso fazer um exercício de reflexão e empoderamento contínuo!
Assim que começou as reuniões internacionais, senti um grande desconforto… Embora pensamentos limitantes atacavam a minha mente, tive que aprender rapidamente a lidar com a síndrome da impostora.
Minha impostora se chama Dolores Mimada e desde o começo da conferência, a Dolores não me dava sossego. Aliás, ouvia as seguintes frases com constância:
- O que você está fazendo aqui? Esse lugar não é para você!
- Você não tem a capacidade técnica para ocupar esse espaço.
- Esses jovens são referências em seus países. Você precisa estudar, trabalhar e militar muito para chegar nesse nível.
Querido leitor, uma coisa precisa ficar bem escura: o sistema capitalista patriarcal heteronormativo de supremacia branca, reservou para as mulheres negras um lugar de exploração, submissão e subalternidade. A minha existência desafia essa estrutura, pois neguei o padrão pré-estabelecido e optei por criar a realidade que eu desejava viver!
Superação
Durante esse processo, dividi essa experiência nas minhas redes sociais e compartilhei com meus seguidores o desafio de lidar com a Dolores Mimada. A síndrome da impostora afeta diversas mulheres, precisamos falar mais sobre ela! Somos inteligentes, esforçadas, estudiosas, ambiciosas e determinadas. Então, por quê quando alcançamos uma posição de alto destaque, achamos que não deveríamos estar ali?
Esse problema é estrutural! Vivemos numa sociedade machista, racista e opressora em diversos sentidos. O primeiro passo para transformar essa lógica, é falar sobre ela.
Todavia, graças a uma conversa com minha mentora, consegui entender e superar esses sentimentos. Desse modo, consegui fazer uma representação da juventude brasileira com maestria, ousadia e autoridade, tudo a partir do meu lugar de fala!
Lembro de escutar a seguinte reflexão da minha mentora:
Amanda, você traz uma realidade que vai contra a narrativa imposta. A Dolores Mimada não é sua inimiga, ela é apenas o seu alter ego que deseja limitar o seu mundo. Já a Amanda Costa, é uma superação dessa realidade, a qual precisou realizar uma super ação para chegar onde chegou. Minha querida, você é a própria impostora e precisa se multiplicar!
Esse pensamento transformou a minha visão! Entendi que apenas o fato de ocupar a posição de jovem embaixadora do Brasil no G20 Youth Summit, abre espaços para que outras meninas negras se enxerguem nesse lugar e assumam uma posição de liderança e protagonismo.
Após essa contestação, a minha confiança aumentou e surpreendentemente tive a segurança necessária para defender meus pontos nas negociações internacionais, assegurando que os tópicos de justiça climática, racismo ambiental e equidade intergeracional fossem debatidos e contemplados no documento oficial.
Querido leitor, eu decidi compartilhar a minha experiência porque quero trazer uma narrativa verdadeira! Eu acredito que, ao abrir a minha vulnerabilidade e expor o meu processo, eu crio um campo seguro de cuidado, conexão e empatia entre jovens.
Enfim, topa criar uma realidade inclusiva, colaborativa e sustentável?