O Brasil será representado por três mulheres negras no Youth 20, encontro para jovens que antecede o fórum de cooperação econômica internacional, o G20. O evento abre espaço para que a juventude proponha soluções a dilemas globais que serão expostas aos chefes de Estado do G20, a ser realizado em outubro deste ano na Itália.
Amanda Costa, Juliana Degani e Lara Martins foram escolhidas pelo Instituto Global Attitude, ONG que assessora organizações, empresas e governos na promoção de colaboração internacional. Elas participam do evento —que ainda acena para um modelo que mescla presencial e virtual— entre 19 e 23 de julho, com outros 60 jovens dos países-membros.
É a primeira vez, em dez anos, que o Brasil leva somente mulheres e negras ao fórum. “É um ato de reafirmar a importância de representatividade em um espaço internacional elitista”, diz Rodrigo Reis, diretor-executivo do Instituto Global Attitude.
A falta de diversidade no Youth 20 é, segundo ele, problema endêmico e que encontra raízes no Itamaraty. “A representação dentro do Itamaraty sempre foi desproporcional à realidade brasileira”, afirma.
“Mulheres não chegam às posições de chefia e a quantidade de embaixadoras mulheres é bem menor que a de homens. É uma subrepresentação para nosso contexto histórico”, completa.
“É uma oportunidade não apenas de representar a juventude brasileira, mas de levar uma voz preta e periférica para um espaço estratégico de desenvolvimento e de colaboração”, diz Amanda Costa, 24, bacharel em Relações Internacionais.
Terão destaque no Youth 20 debates sobre futuro do trabalho e digitalização, inclusão e sustentabilidade e mudança climática e meio ambiente.
Lara Martins, 29, afirma que a desigualdade aprofundada na pandemia e o desemprego entre jovens serão pautados pela delegação brasileira. Acesso à internet e à informação também estarão na agenda.
“Estamos nos esforçando para que as mensagens cheguem a todos os cantos do Brasil e que possam gerar soluções práticas em relação aos jovens invisibilizados na nossa sociedade por tanto tempo”, diz a publicitária.
Com histórico de engajamento em causas sociais, as jovens se aproximarão de espaços de poder internacionais, tomando contato com soluções globais que possam ser aplicadas a problemas locais.
“Os coletivos e organizações no âmbito online são cruciais para conectar os jovens brasileiros à ação política e social”, diz Juliana Degani, 21.
Aos 17 anos, a paulista fundou grupo de debates sobre sexismo, homofobia e racismo na América Latina. Na faculdade de Relações Internacionais, ajudou a criar um coletivo negro e abriu precedente ao possibilitar o primeiro julgamento de denúncia de fraude de cotas raciais e socioeconômicas na USP.
“Compreendi que, para promover mudança, era necessário não apenas conscientizar pessoas no nível local, mas possibilitar espaços seguros de acolhimento e discussões”, afirma.
Amanda Costa é ativista climática, jovem embaixadora da ONU e empreende o Perifa Sustentável, que pretende democratizar a Agenda 2030 nas periferias de São Paulo.
Lara Martins, selecionada em 2020 para The Economy of Francesco, evento promovido pelo Papa Francisco, gerencia a comunidade do Sistema B Brasil. O movimento atrai pessoas que usam os negócios para a construção de uma economia inclusiva, equitativa e regenerativa.
“Temos que colocar o jovem a par dos temas importantes que estamos debatendo e fazê-lo entender a importância da sua voz por meio de projetos, grupos de estudo e formações”, diz Lara. “Só assim poderemos desenvolver o pensamento crítico que possibilitará mais vozes nos espaços de decisão democráticos”, completa.
A expectativa das jovens se soma à do instituto, que também aposta em conversas imperativas no encontro. “O Brasil tem o dever de pautar conservação ambiental, mudança climática e acessibilidade de países em desenvolvimento a vacinas”, diz Rodrigo Reis.
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