A Cúpula de Líderes sobre o Clima, evento prometido na campanha do presidente Joe Biden, colocou a emergência climática no centro das discussões mais uma vez. Com as mudanças no meio ambiente já mostrando o seu impacto no modo de vida das populações em várias regiões do mundo, é urgente que se discuta o que governos precisam fazer para frear as consequências desse problema, considerando também o risco para a segurança alimentar.
Esse conceito que, aliás, surgiu no contexto pós-Primeira Guerra Mundial, estava relacionado inicialmente a segurança nacional. Ou seja, a ideia de que um país poderia dominar outro controlando o seu fornecimento de alimentos. No entanto, ele também acabou ganhando o entendimento de que estaria ligado exclusivamente a capacidade de produção. Todavia, o que perdurou isso até a década de 70, tornando-se argumento para defesa da Revolução Verde pela indústria química.
A ideia difundida era a de que a potencialização da produção agrícola, assegurada por fertilizantes e agrotóxicos, permitiria que não houvesse fome ou desnutrição. No entanto, uma definição mais ampla e coerente do conceito, considera também a questão nutricional. Ou seja, já que a qualidade do que se consome é tão importante quanto o próprio consumo.
A Segurança Alimentar
Dessa forma, a segurança alimentar é – mais do que assegurar que todos tenham acesso aos alimentos de forma permanente e em quantidade suficiente – que esses também tenham qualidade nutricional. A qualidade e a constância, aliás, dependem também da maneira como se produz. Em suma, seja do ponto de vista das substâncias utilizadas, como do modo com que se manipula o ambiente para tal. O não comprometimento do acesso a outras necessidades essenciais, bem como a manutenção do sistema alimentar futuro, são os desafios que as mudanças climáticas impõem para esse conceito.
A sustentabilidade do sistema alimentar depende do modo como enfrentamos a emergência climática. Mudanças no padrão das chuvas ocasionadas por ela e modificações no solo, por exemplo, geram perda de produtividade na agricultura. Desse modo, colocando nesse contexto sim, a segurança da alimentação em risco por falta de disponibilidade. As mudanças climáticas podem criar falta de abastecimento de alimentos seja fazendo as chuvas mais escassas ou frequentes em regiões, seja através de catástrofes naturais. A falta de alimentos pode se dar pelas não condições para a produção, como também devido ao desaparecimento de espécies que estão na nossa cadeia alimentar.
O Sistema Agrícola
Sendo assim, a capacidade geral do sistema agrícola de atender à demanda de alimentos não depende de mais agroquímicos como defendido anteriormente, mas, principalmente, das condições agroclimáticas que os produtores encontrarão para produzir.
Além disso, é preciso lembrar, que a emergência climática afeta não somente a produção de alimentos, mas também agrava fenômenos sociais, como a desigualdade. No meio urbano, por exemplo, é possível observar grupos de maior poder aquisitivo ocupando espaços antes habitados por pessoas de baixa renda devido aos processos de melhorias adaptativas, decorrentes das mudanças no clima. Os acidentes climáticos atingem principalmente os mais vulneráveis e que têm menos acesso à capital, tecnologia, infraestrutura e conhecimentos para reagir à situação. Por isso, eles acabam abandonando as áreas afetadas por catástrofes, ou regiões que foram revitalizadas e se tornaram inviáveis financeiramente para sua sobrevivência.
A sustentabilidade do sistema alimentar depende, portanto, de uma nova relação de todos com o meio ambiente. É necessário um investimento de governos e das sociedades na capacidade de satisfazer nossas necessidades, sem causar (ou causando o mínimo) impacto ambiental.
Tem que ser um esforço conjunto possível, pois, disso, depende o futuro.
Fontes:
- Caderno ‘Segurança Alimentar’ Renato S. Maluf (CPDA/UFRRJ, Brasil) Francisco Menezes (IBASE, Brasil) Com a colaboração de Susana Bleil Marques (Partes 12-13).
- VULNERABILIDADES ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS – Daniel Conrado, Déborah Eliane Andrade Munhoz, Magna Cunha dos Santos, Reynaldo França Lins de Mello, Valmira Braga e Silva.