O Dia Internacional da Mulher nos dias atuais é marcado por protestos e reivindicações pelos direitos da mulher e da igualdade de gênero, atividade que se aproxima das mesmas lutas que deram origem à data comemorativa. Dentro do movimento socialista, mulheres que trabalhavam em fábricas nos Estados Unidos e Europa começaram uma campanha por melhores condições de trabalho, que se comparadas às dos homens eram ainda piores na época.
Ainda que muitos associem a data de celebração ao incêndio em uma fábrica de Nova York, em 25 de março de 1911, que resultou na morte de 123 mulheres e trouxe à tona as más condições enfrentadas pelas trabalhadoras, registros mais antigos mostram a reivindicação feminina para que houvesse um espaço dedicado às suas causas no movimento de trabalhadores.
Ainda em 26 de fevereiro de 1909, em Nova York, ocorreu a grande passeata das mulheres. Em 1917, houve um marco ainda mais forte, quando um grupo de operárias manifestou-se nas ruas contra a fome e a Primeira Guerra Mundial – ato que daria o pontapé na conhecida Revolução Russa. O protesto aconteceu em 23 de fevereiro segundo o calendário russo da época, o que significaria 8 de março no calendário adotado pelo Ocidente.
A data foi, então, oficializada pelos soviéticos após a revolução bolchevique, celebrando a mulher heróica e trabalhadora. A partir daí, o 8 de março se tornou data importante nas manifestações femininas de todo o mundo, sendo oficializado como Dia Internacional da Mulher apenas em 1975, quando a ONU estabeleceu o Ano Internacional da Mulher como forma de lembrar suas conquistas políticas e sociais.
No século XX as mulheres reivindicavam melhores condições de trabalho, que pelo menos se assemelhassem à dos homens, e mais respeito. Mais de cem anos depois, a data ainda levanta a questão de que muitos problemas persistem, com conquistas insuficientes.
Ainda que seja comemorado no mundo inteiro, o 8 de março ganhou um aspecto de comercialização. Considerado feriado nacional na Rússia, por exemplo, este é o dia quando as vendas nas floriculturas mais se multiplicam. Já na China, metade do dia é tomado como folga para mulheres, apesar de nem todas as empresas implementarem a sugestão do governo.
Em muitos países, porém, esta é uma data de luta. Nos Estados Unidos, todo o mês de março é dedicado a diversas marchas das mulheres e no Brasil muitas de suas cidades são marcadas por protestos, pedindo igualdade salarial, respeito, fim da violência contra a mulher e contra a criminalização do aborto.
As manifestações deste ano no Brasil também alertam para os altos números de feminicídio nos primeiros dois meses de 2019. Segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), mais de 126 mulheres foram mortas por conta de seu gênero no país, além de outras 70 tentativas de homicídio. Isso equivaleria a 2,17 assassinatos por dia, nos meses de janeiro e fevereiro, dos quais a maioria das vítimas são mulheres negras.
Ainda de acordo com a CIDH, o Brasil concentrou 40% dos feminicídios na América Latina no ano de 2017, declarando em nota que “a impunidade que caracteriza os assassinatos de mulheres em razão de seu gênero transmite a mensagem de que essa violência é tolerada”.
Com isso, percebe-se que os mais de cem anos de reivindicações se tornaram, de alguma forma, poucos para ver resultados concretos, mas é importante destacar que, a cada ano, mais se discutem e escancaram-se problemas antes tidos com pouca visibilidade ou relevância.
Delegadas na ONU
Nesta segunda-feira (11), a delegação do Diplomacia Civil para o Commission on the Status of Women, da ONU Mulheres, composta por 14 mulheres, apresentará um painel exclusivo sobre a situação da mulher brasileira perante a sociedade civil.
Intitulado “Brazilian Women and the Role of Civil Society Organizations”, painel faz parte de um comitê do CSW específico para ONGs, evento paralelo que representa mais de 100 organizações e indivíduos focados em discutir a situação feminina no mundo.