A crise humanitária na Síria trouxe a migração para o centro do debate de políticas públicas globais. Em 2015, presenciamos o maior deslocamento humano desde a Segunda Guerra Mundial: a ONU contabilizou 19.5 milhões de refugiados pelo mundo. Mais do que muitos países europeus, o Brasil se tornou destino de famílias que fogem da pobreza, perseguições religiosas e guerras civis.
Entre 2011 e 2015, o número de refugiados no Brasil dobrou: foi de 4.218 para 8.530, de acordo com dados do Ministério da Justiça. Desses, a maioria são sírios e, em seguida, angolanos e colombianos. A política de manter “as portas abertas” foi elogiada por organizações internacionais, que disseram se tratar de um exemplo a ser seguido e uma importante mensagem a favor dos direitos humanos.
Integração à sociedade
A imagem que se tem dos refugiados nem sempre equivale à realidade. Muitos dos recém-chegados, por exemplo, possuíam diplomas de ensino superior, casas e carros, bons empregos – mas foram forçados a abandonar essa segurança quando a situação em seus países se agravou. Contudo, chegar ao Brasil em meio à uma crise econômica e com pouco ou nenhum conhecimento do idioma impede que esses imigrantes se recoloquem no mercado e sustentem suas famílias.
A solução? Para alguns, programas governamentais de combate à miséria, como o Bolsa Família (que, até o ano passado, continha 15.707 famílias com estrangeiros entre os beneficiários de R$ 167 por mês). Mas a própria população trouxe outras alternativas: é o caso do Migrafilx, projeto que acontece em São Paulo.
O mundo na sua cidade
Desde setembro de 2015, imigrantes e brasileiros se reúnem aos finais de semana para intercâmbios culturais que envolvem gastronomia, música, dança e até caligrafia. Criado pelo jornalista Rodrigo Borges Delfim, brasileiro, e o administrador Jonathan Berezovsky, argentino, o projeto faz bom uso do conhecimento dos estrangeiros através de workshops, gerando renda para as famílias. O Migraflix ajuda na elaboração das aulas, preparação do espaço, materiais e divulgação dos cursos, que custam, em média, R$ 80 por pessoa.
Além do valor das inscrições, o encontro promove a familiaridade com o idioma e a interação entre pessoas de realidades distintas, parte do caminho para tornar a sociedade “mais plural, tolerante e inclusiva”. Rodrigo se recorda de duas mulheres, uma refugiada síria e, a outra, marroquina, que começaram a organizar suas aulas de culinária com apoio do Migraflix: “No início, ambas eram muito tímidas, mas, a cada workshop, iam se ‘soltando’ – seja ao partilhar os conhecimentos sobre a gastronomia de seus países, seja na hora de contar histórias sobre a terra natal”.
Nesse final de semana, os cursos disponíveis são “A Síria sobre a Mesa” e “Peru, uma gastronomia marcante”. Outros, ofertados em março, incluem caligrafia árabe e culinária marroquina. Veja a programação completa aqui e participe.
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