Por Karina Calandrin
Após mais de um ano de discursos e promessas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pronunciou um discurso em Washington nesta quarta-feira (6) reconhecendo Jerusalém como a capital do Estado de Israel.
Como esperado, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, parabenizou Trump pelo anúncio, enquanto o presidente palestino, Mahmoud Abbas, declarou que os EUA não podem mais atuar como mediadores entre Israel e Palestina, pois teria perdido o status de parte neura – supondo que um dia tenha sido. As forças de segurança israelenses estão alertas para uma possível escalada em Jerusalém e na Cisjordânia, que já teve início nesta quinta-feira (7).
Paralelamente ao reconhecimento, o discurso de Trump incluiu três pontos centrais: o presidente estadunidense absteve-se de declarar explicitamente que a solução de dois Estados é o único caminho para um acordo de paz, apenas dizendo que “os Estados Unidos apoiariam uma solução de dois estados caso os dois lados concordassem”, repetindo os comentários que fez em uma coletiva de imprensa ao lado de Netanyahu em fevereiro de 2017.
O presidente também anunciou que instruiu as equipes relevantes para começar a planejar a transferência da embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusalém, mas não afirmou quando tal movimento acontecerá. Finalmente, Trump enfatizou que o reconhecimento estadunidense de Jerusalém não equivale a uma posição sobre a questão das fronteiras e a soberania de Israel sobre Jerusalém. Essas questões, ele disse, serão decididas nas negociações entre israelenses e palestinos.
Trump pediu para manter o status quo nos locais sagrados de Jerusalém, incluindo o Monte do Templo, também conhecido como Haram al-Sharif. De acordo com o presidente, “com a ação de hoje, reafirmo o compromisso de longa data da minha administração com um futuro de paz e segurança para a região. Confiamos que, finalmente, enquanto trabalhamos com essas desavenças, chegaremos a uma paz”.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu elogiou Trump e ainda disse que qualquer acordo de paz com os palestinos deve incluir Jerusalém como a capital de Israel, acrescentando que não haverá mudança no status dos locais sagrados da cidade.
Em comentários para o jornal israelense Haaretz, Saeb Erekat, principal negociador de paz palestino, respondeu à decisão do presidente dos EUA de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel da seguinte forma: “O presidente Trump enviou uma mensagem ao povo palestino: a solução dos dois Estados acabou. Agora é o momento de transformar a luta por um Estado com direitos iguais para todos os que vivem na Palestina histórica, do rio ao mar”.
Mais cedo, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, rejeitou o discurso de Trump sobre Jerusalém, dizendo que incentiva a ocupação e construção de assentamentos israelenses.
A realidade é que, apesar da decisão do presidente estadunidense representar pouco na prática, representa muito do ponto de vista simbólico. Os Estados Unidos como o primeiro país a reconhecer Jerusalém como capital de Israel corrobora e dá força para movimentos internos israelenses que reivindicam a cidade como sua capital indivisível, como afirmam os partidários do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, do partido Likud. Em relação ao aspecto internacional, de um lado, pode suscitar que outros Estados sigam a decisão, de outro pode levar a retaliações graves na arena multilateral.
No que tange o conflito com a Palestina, poderemos observar protestos e ondas de violência como forma de represália à decisão, gerando embates agressivos entre palestinos e as Forças Armadas de Israel principalmente na Área B da Cisjordânia, uma vez que esta possui administração política palestina e de segurança de Israel.
O status de Jerusalém é uma das questões mais sensíveis relativas ao conflito Israel-Palestina e a posição dos Estados Unidos prejudica o progresso das negociações de paz, uma vez que torna mais difícil cessões neste âmbito. Jerusalém é igualmente sagrada para as três maiores religiões monoteístas do mundo, discutir merecimento em relação à sua posse é deveras superficial. Tanto o judaísmo e cristianismo, quanto o islamismo possuem ligações diretas com a cidade de Jerusalém e essas conexões não deveriam ser descreditadas por decisões políticas, como a de Donald Trump e a igualmente equivocada disposição da UNESCO que ignorou a ligação de Jerusalém com os judeus.
Karina Stange Calandrin é doutoranda em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP/UNICAMP/PUC-SP) e assistente de projetos no Instituto Global Attitude.
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