É isso mesmo! Por uma voz pluridiversa de mulheres: experiências na construção de um movimento decolonial de gênero latino-americano.
Em consonância com o projeto crítico que revela a colonialidade com o lado escuro da modernidade, o feminismo decolonial questiona a perspectiva do progresso na conquista de direitos das mulheres. O giro decolonial e o aprofundamento de um feminismo antirracista reforça o avanço contra o sujeito ‘mulher universalista’ e desvinculada de seus lugares de referência e origem de classe e raça. Mas, além disso, o enredo de poder continua a ser mais complexo, tornando quase impossível continuar apoiando uma política de identidade no formato antigo, o modelo europeu como o grande projeto ao qual deve ser alcance de todos os grupos. O movimento sufragista na América Latina também presenciou feministas no movimento operário e na luta contra as ditaduras, são “dados” que não entram nas ondas clássicas universalmente identificadas. Essa questão, só pode traduzir que, não há apenas uma história universal, mas histórias, e como afirmado por mulheres latinas; o que não quer dizer que também não são diversos e contém tensões.
A contribuição para a divulgação dessas vozes e pensamentos ‘outros’ do Sul, especialmente da América Latina; e sua a ausência de um aparato conceitual que dê conta da decolonialidade de gênero em sua intersecção com a raça, classe e sexualidade dentro de nossas sociedades e suas conspirações com a do norte global deve ser questionada. A pesquisa na intersecção do feminismo e do pensamento decolonial, com suas reflexões críticas sobre gênero e desconstrução do pensamento localizado e parcial dos direitos humanos possibilita outros significados de interpretação. Ao demonstrar as práticas e discursos rígidos e homogêneos, legitimados pelo saber acadêmico convencionais, de onde não há diversidade, multitemporalidade ou pluridiversidade como formas de experiências do mundo, possibilita a abertura ao questionamento do poder colonial implementado desde o início da chegada do colonizador na América Latina. A história fragmentada expõe as feridas abertas que necessitam de uma desconstrução, entendimento e novos caminhos de resistência feministas.
Investigar os movimentos e ações sociais que essas feministas decoloniais latinas vem manifestando em seus países, parece de extrema importância para trazer à superfície dos profundos e reprimidos gritos silenciados pela história. Considerando a reconstrução dos aspectos universais e hegemônicos dos direitos humanos, exploram a necessidade de repensar os aspectos de lutas sociais e culturais enraizados na sociedade contemporânea, propondo o pensamento crítico como alternativa, enfrentando a reinvenção dos direitos humanos a partir dos aspectos do terceiro mundo em busca por condições de dignidade do ser humano com o máximo de respeito às suas diferenças culturais.
O post contém referências no corpo do texto e outros nos seguintes links:
AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Rev. Bras. Ciênc. Polít., Brasília, n.11, mai/ago 2013.
HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). Pensamento feminista decolonial hoje: perspectivas decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do tempo, 2020.
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: Episódios de racismo cotidiano. Trad: Jess Oliveira. 1ª.ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
LUGONES, María. Colonialidad y Género. Tabula Rasa, Bogotá, n.9, p. 73-101, jul/dez 2008.