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Dois cafés e a conta com Raphael Bertão

Aos 16 anos, Raphael Bertão já tinha concluído o ensino médio. Formou-se aos 20 em Relações Internacionais no Ibmec, como o melhor aluno do curso. Na faculdade, chegou a vice-presidente de uma empresa gerida pelos estudantes, a Cemec. Mas logo se engajou na política e virou presidente do centro acadêmico. Ainda era pouco. Estagiou no Sindicato das Empresas de Navegação Marítima, foi à Brasília conhecer o funcionamento da Câmara dos Deputados, falou para executivos num evento da Fundação Estudar e criou um projeto social chamado Bottom Up. Sua sede de conhecimento levou-o a aprender sobre finanças, administração, gestão. Nada mal para um rapaz de 21 anos, morador de Nova Iguaçu, filho único do dono do açougue Valverde das Carnes e da dona da loja de moda feminina Maria Dondoka. “Meus pais sempre me falaram que quem nasce no comércio tem que lutar, porque nunca há nada certo”, diz ele, que aos 19 anos entrou como estagiário de gestão comercial na L’Óreal e, desde outubro de 2017, é analista júnior na área de merchandising da multinacional. Raphael acaba de ser selecionado para participar do World Investment Forum, promovido pela Unctad, a Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento, de 20 a 28 de outubro em Genebra, na Suíça, com o tema “Investindo no Desenvolvimento Sustentável”. Para bancar os custos da viagem, lançou campanha de financiamento coletivo no site , até 2 de outubro.

Como surgiu o projeto social Bottom Up?

No sexto período da faculdade, senti que faltava algo na vida e resolvi criar um projeto social. Eu e dois colegas, Fernanda Cabral e Alexandre Cerqueira, fomos conhecer o consulado americano. Na visita, Alexandre foi chamado para fazer parte de um programa nos Estados Unidos. No fim, ele tinha que criar um projeto. Como não tinha nada em mente, falou conosco e juntos idealizamos o Bottom Up. O nome é porque a mudança começa de baixo para cima. Conseguimos uma verba inicial de US$ 500 do Institute for Training & Development e do Departamento de Estado Norte-Americano, e começamos em maio de 2017.

Qual o objetivo do projeto?

O grande problema do Brasil é a educação. Exportamos talentos que não voltam e desperdiçamos muita gente de potencial nas favelas. Então, decidimos criar um projeto que fosse um grito de dor, mas também de esperança, capacitando crianças de comunidade e ampliando seu leque de escolhas. E aí procuramos escolas. A primeira foi o Instituto Isai, em Laranjeiras, sem fins lucrativos. Depois, a Casa Santa Ignez, que atende crianças e jovens da Rocinha e do Parque da Cidade. Há duas semanas, estamos em trâmites legais para atuar em uma escola pública do Rio de Janeiro. E, semana passada, um grupo de jovens de Campo Grande, no Mato Grosso, abriu uma filial. Já são 125 alunos no total. E estamos buscando mais um colégio.

Como funciona o Bottom Up?

A gente mesmo desenvolveu a metodologia, em conversas com professores do Ibmec e professoras das escolas. Elas aprovam o conteúdo e sempre participam das aulas. O projeto é baseado em três pilares: inglês, cidadania e liderança. Temos 28 voluntários. Para se tornar um, tem que querer mudar o mundo. No total, são 15 aulas, duas vezes por semana, no turno escolar, para alunos de 10 a 13 anos. No módulo Cidadania, tratamos de temas como cargos públicos (o que faz o presidente, o governador e demais representantes), os efeitos da globalização, direitos e deveres, igualdade entre homem e mulher. Tem um teatrinho para mostrar a importância do estudo e realçar pontos como não jogar lixo na rua ou se sentar em bancos preferenciais. Na experiência de cego, tapamos a visão para que eles se ajudem a passar por obstáculos.

E as demais aulas?

No módulo Inglês, os professores são americanos que participam do programa Fulbright. Eles passam noções básicas da língua, estimulam o gosto pelo idioma e mostram o papel que ele pode ter na vida pessoal e profissional. Já no módulo Liderança, ensinamos que ela não é um cargo, mas um papel que você cumpre. Mostramos exemplos de líderes, passamos as características de liderança e damos tarefas em equipe, para que criem algo em conjunto. Incentivamos os alunos a serem o que quiserem, a alcançarem seus sonhos, a enfrentarem seus medos. No começo, eles falam: “Meu sonho é esse, mas não vou conseguir.” Depois entendem que é possível. Eu conto minha história para inspirá-los. Uma moça que vende coco na praça diz que o filho falava todo dia que queria ser que nem nós, seus professores.

Fale um pouco da sua história.

Tenho o lado empreendedor e o lado social. Aos sábados, faço parte do projeto Plantando Sorrisos. Nós nos vestimos de palhaço e vamos aos hospitais alegrar os doentes e falar do amor de Jesus por eles. Aos domingos, fico no caixa do açougue de meu pai. Criei um combo com a costela no bafo e o frango assado com batata e farofa, a R$ 30. Aos 7 anos, eu quis um celular e para isso vendi brigadeiros, pirulitos e balas nas ruas de Nova Iguaçu. Comprei o telefone e ainda sobrou para uma prancha de surfe, que tenho até hoje. Para custear a viagem de agora a Genebra, além da campanha de crowdfunding voltei a vender brigadeiros. Minha avó é quem faz. É o melhor brigadeiro que já comi. Tem o tradicional, o de paçoca e o de leite Ninho com Nutella. Um é dois e três é cinco. Comecei há poucos dias e já arrecadei R$ 1 mil. Vendo no Instagram, no Facebook, no Ibmec, no açougue, na rua. Em Genebra, vou assistir a seminários, participar de encontros e escrever um artigo para o Diplomacia Civil, programa do Instituto Global Attitude que selecionou os 11 jovens líderes brasileiros que vão participar do evento. Sou o único do Rio. Em fevereiro de 2019, vou passar um mês na Ohio University, estudando gestão e inglês para negócios, com bolsa de 50% do Latin America Institute of Business (LAIOB). Já estou juntando dinheiro para completar o restante. Se eu tenho um sonho, ele vira um objetivo e vou batalhar e fazer o que for preciso para conquistá-lo.

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