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Após intervenção militar no Rio, grupos brasileiros estreitam relações com dissidências das Farc

Colaborou Hillary Cuervo, Assistente de Projetos do Instituto Global Attitude.

Ao entrar em vigor o acordo de paz entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em dezembro de 2016, acreditava-se que chegaria ao fim meio século de conflitos no território do país, o qual resultou na morte de mais de 200 milhões de pessoas e no deslocamento de mais de seis milhões.

No acordo, o grupo guerrilheiro se comprometia a pôr fim ao cultivo de drogas ilícitas e a entregar suas armas, ao passo que o governo promoveria programas sociais para integrar mais de seis mil rebeldes à sociedade civil. Com estes termos, as negociações foram encerradas após quatro anos de discussões, ainda que houvesse grande desacordo tanto da oposição do governo – a qual argumentava que o país gastaria grandes quantias em um momento de desaquecimento da economia – quanto nas próprias Farc e grupos dissidentes.

O feito garantiu ao presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, o Prêmio Nobel da Paz em 2016, mas durante estes dois últimos anos de pós-acordo o país ainda enfrenta atividades guerrilheiras e narcotráfico por parte de grupos dissidentes das Farc. Os resultados das negociações, porém, são considerados bem sucedidos, como afirma o advogado e professor da Universidad del Norte (Barranquilha, Colômbia) Dr. Luis Fernando Trejos.

Presidente colombiano assina acordo de paz. Foto: Divulgação

“O acordo de paz teve êxito na medida em que desarmou e desmobilizou as Farc como organização armada, sendo hoje um partido político que já participou de eleições e possui 10 cadeiras no Congresso. O que falhou neste processo, diferentemente dos anteriores, foi a demora em implementar as ações de combate às causas que deram origem à violência direta. Esta é a real falha”, afirma.

Ainda segundo Trejos, alguns grupos das Farc não fizeram parte das negociações – as chamadas “dissidências” -, localizadas principalmente nas regiões periféricas (como no sudeste e nordeste da Colômbia), onde há pouca presença estatal, contribuindo para a continuidade das atividades armadas.

“Há uma reincidência massiva de ex-combatentes que já haviam se desarmado. São indivíduos que transitam novamente à ilegalidade. Em paralelo a isso, têm aparecido grupos emergentes, ou seja, novos grupos armados nos territórios anteriormente controlados pelas Farc. Acredita-se que isso se dá, em parte, pelo não cumprimento do Estado na implementação do que foi acordado, especialmente no quesito sobre a reintegração. Está demorando muito a aprovação dos projetos produtivos e há muita incerteza sobre o futuro das antigas zonas transitórias de capacitação e reintegração, porque muitas se localizam em prédios privados e a maioria dos contratos de arrendamento acabam no primeiro semestre deste ano, enquanto os ex-combatentes ainda não tiveram a possibilidade de adquirir terras produtivas para implementar os projetos individuais e coletivos que querem desenvolver”.

Grande parte do sucesso do acordo de paz dependia da resolução da situação laboral e produtiva dos ex-guerrilheiros. Após meses sem a implementação dos projetos governamentais, estas pessoas se desencantaram com as promessas e abandonaram os espaços de integração, vendo no retorno à ilegalidade um caminho mais prático.

Não cumprimento de ações do governo e falta de perspectivas levaram membros das Farc a voltarem à ilegalidade. Foto: Divulgação.

As dissidências das Farc já contam com cerca de 1.200 integrantes, atuando no narcotráfico e na mineração ilegal. Recentemente, o ministro de Defesa da Colômbia, Luis Carlos Villegas, denunciou que estes grupos teriam vínculos estreitos com facções criminosas brasileiras, a exemplo do Comando Vermelho, que atua principalmente no Rio de Janeiro.

O ministro afirma que estes guerrilheiros buscam expandir o esquema de rotas internacionais para o comércio de drogas, sendo o Brasil uma peça a ser inclusa. Em comunicado oficial, ele comentou que “felizmente, com o Brasil, temos uma cooperação muito boa que impediu que isso acontecesse”.

A relação das Farc com grupos brasileiros, porém, não é recente. A prisão de Fernandinho Beira-Mar em 2001, durante uma operação colombiana contra as Farc, comprovaram que, durante muitos anos, o grupo vendia ao traficante cloridrato de cocaína.

A notícia de que guerrilheiros estariam trabalhando junto a grupos brasileiros se dá pelo fato de que há um recrutamento de membros das Farc após o recente desenrolar da segurança no Rio de Janeiro. “Estas organizações estariam interessadas em contratar os serviços de ex-comandantes e ex-guerrilheiros das Farc, por terem formação e capacidade militar, o que poderia se tornar proveitoso na defesa das favelas”, afirma Trejos.

Outra atividade realizada em conjunto com grupos do Brasil seria a mineração ilegal. Sabe-se que os garimpeiros pagavam uma espécie de imposto às Farc para explorar os minerais em terras colombianas. Esta ação segue em vigor com as dissidências, com a possibilidade de que indivíduos que já haviam se desarmado tenham sido contratados para prestar serviços de segurança às minas ilegais. Segundo Trejos, este fenômeno é muito comum e focado no território colombiano, “ao passo que o narcotráfico tem maiores implicações de segurança para ambos os países”.

Ainda que se tenha consciência destas atividades, não houve manifestação pública por parte do governo colombiano para combater esta relação, por não ser um assunto prioritário no momento. “O foco está centrado na fronteira com o Equador, por conta de um dissidente das Farc que sequestrou e assassinou três funcionários de um jornal equatoriano e sequestrou outros dois cidadão na Venezuela. Naquela área há uma situação complicada de ordem pública por conta do enfrentamento entre dois grupos guerrilheiros que ocupam este território. O Brasil, agora, não é uma preocupação para eles”, explica o professor.

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